Árvore velhinha
Árvore velhinha
da minha infância,
sombra cativa,
rosto que abriga
ócio, fadiga,
sede de vida
reconvertida
em esperança.
O tempo passa
por ti, mais lassa.
Ficas nodosa,
quase rugosa,
de cor vetusta
e tão velhinha!...
Ainda assim,
és, para mim,
verde, viçosa,
jamais idosa.
Imensas molas
são os teus ramos,
que se revestem,
párias, ciganos,
de tersos panos,
todos os anos.
E entumecem,
doiradas balas,
que tu imolas.
São esses frutos,
da cor do sol,
seios adultos
que aquecem lutos,
saciam putos,
amadurecem,
de sol a sol,
em lento passo,
leve, madraço,
longo, estiraço,
quase bemol.
Seria eterno
o teu enlevo
de ser infinda,
juntinho à terra,
dócil, sem medo
de tempo ou guerra,
se, em dia eterno,
de muito inverno,
noite gelada,
chuva glabra,
de temporal,
árvore linda,
fosses poupada.
Tal não se deu;
foste arrancada
do pedestal
e sepultada
no chavascal.
Esse teu rosto
(oh que desgosto!...)
não mais se ergueu,
rumo ao céu.
Senti o estrondo,
sonho hediondo.
Chorei, desperta,
insone, alerta,
não sem delírio,
o teu martírio.
Agora e sempre,
vou recordar-te
e imitar-te
pávida, crente:
quero viver
a tua fé,
esbravejar
e, se possível,
hirta, insensível,
morrer de pé.
Inês Folha d'Água
purplepink
xx
xx
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